sábado, 4 de agosto de 2012

CONSIDERAÇÕES SOBRE A GREVE NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO)


            Você já entrou no site do Andes-SN ou do Sinasefe Nacional e viu as pautas de reivindicação? Não? O que você viu? As matérias de jornal que dizem que o governo já apresentou duas propostas de "aumento"? Sinto muito em lhe dizer, mas o que você viu foram apenas meias verdades (se é que são meias... às vezes, são só 5% da verdade, ou nem isso). As pautas dessa greve vão além de salários, discutem vidas, a dos professores, dos técnicos e dos alunos, atuais e futuros, a passar pelas instituições federais. Discute-se o ingresso dos alunos, com estrutura para recebê-los e, não é por não mostrarem essas pautas na mídia, que elas não estão na negociação. Elas estão, mas o governo não quer negociar. As duas propostas do governo (que na verdade são a mesma coisa) representam uma tentativa de calar a boca dos servidores e manter tudo como está. Não houve negociação por parte do governo. Houve imposição: está é a proposta e é a última, dizem os ministros. Quem a fez? quem a elaborou? O governo, sem ouvir os servidores, sem olhar a realidade dos servidores, nem dos alunos, nem das instituições. Ah, mas o PROIFES assinou o acordo com o governo (o Proifes, na verdade, nem sindicato é. Sindicato é o ANDES e o Sinasefe. O Proifes, uma federação, foi criado pelo PT justamente para esses momentos, justamente para acabar com movimento trabalhista. Basta ver que as bases – Universidades ligadas a ele – em sua maioria, rejeitaram a proposta do governo e o Proifes, arbitrariamente, assinou assim mesmo). Ah, mas estamos em crise mundial. O governo está sendo responsável economicamente oferecendo reajustes, escalonados em 3 anos, com impacto de 4,8 bilhões no orçamento. Dilma acabou de perdoar 18 bilhões em dívidas das faculdades particulares e sabe por quê? Para lhe oferecer bolsas de ensino. Aí, aluno de graduação, eu lhe pergunto: e a pesquisa? Estas faculdades particulares não tem. E a Extensão? Também inexistem. Você terá, nessas faculdades particulares, uma formação pífia e manca. Quer discutir crise mundial? Explique-me esses 18 bilhões; explique-me 50% do orçamento para pagar Dívida Pública; ou os quase 80 bilhões que serão gastos na Copa; explique-me estádios, parques, velódromos (de milhões, bilhões) construídos para o Pan e demolidos para serem refeitos para a Copa e as Olimpíadas. Isto também está na mídia, você não viu? Cadê a prioridade nos gastos públicos?

            Ah, mas tem professor "em férias" durante a greve? Claro que tem. Existem pessoas de todos os tipos, mas não crie uma regra que abarque 140 mil professores federais por dois que você conhece (e estão, por exemplo, no Chile, esquiando) e sabe que não estão fazendo nada em favor do movimento.            Ah, mas os alunos estão sem aula há 77 dias. Os alunos prestes a se formar não se formarão, senão com atraso de dois ou três meses. Você conta realmente sua vida em tão curto tempo? E o final do ano que vem? E daqui a dez anos? Vinte anos? E seus filhos e netos? Ah, mas professor só quer salário. Repito: antes de responder a este texto, pare de acreditar nessas matérias que circulam por aí, olhe a pauta de reivindicações e depois nós conversamos sobre salário, sobre estrutura, sobre melhora para você, aluno, e sobre o futuro que deixaremos em anos, não em dias ou meses, para o seu filho ou seu neto.            Se você faltou às aulas de História do Brasil, aqui vão algumas informações que você precisa ter: greves resolvem muita coisa. Se hoje o trabalhador brasileiro tem direito a férias, 13º salário, condições de trabalho, dentre outras conquistas (sim, conquistas, pois foram conseguidas com luta), grande parte disto se deu graças aos brasileiros do passado que fizeram greve e lutaram, às vezes, à rivelia dos próprios beneficiados, em favor do futuro.            Tenho ouvido alunos (com muitas exceções, por sorte) dizerem que os professores são uma “cambada”, “gentolha”, “corja”, dentre outros termos pejorativos usados inconsequente e indiscriminadamente. Você entrega sua formação nas mãos dessas pessoas e é isso que você pensa mesmo delas? Depois de anos de estudo, de especialidade, de formação que permite a cada docente ser autoridade no assunto que leciona, você acha que ele/ ela é isto mesmo? Se esta é a sua lógica, usarei um clichê e perguntarei: Diga-me com quem tu andas e eu te direi quem és! Ou ainda, pra te entender melhor, eu farei uma alteração no lugar-comum e direi: Diga-me o que tu lês (e tomara que leias) e eu te direi por que razão você pensa assim! Nessas horas, alguém sempre volta a falar em salário, que os professores só querem encher os bolsos de dinheiro, que a realidade do Brasil é outra, que tem gente vivendo com um salário mínimo, etc. Triste, triste isto. Se não lutarmos por nossos salários, nossas carreiras, quem o fará? Quanto a pessoas que ganham um salário mínimo, eu diria: Que pena. Bom seria (e há como!) se todos ganhassem mais. Não quero nivelar os ganhos, as conquistas dos trabalhadores, por baixo. Quero que o seja feito por cima, em efeito cascata, atingindo a todos em médio ou longo prazo. É possível, eu acredito, eu luto por isso.              Por fim, dia 31/08 é a apresentação da proposta de Orçamento. Ela pode (e é) mudada até ser votada pelos parlamentares, em dezembro. Mesmo depois, ainda há como alterar. Logo, concluimos que os “prazos do governo” são falaciosos.            Informe-se mais, leia mais, leia muito. Busque várias fontes, debata, discuta, ouça e, repito, leia. Com informação, com conhecimento, você deixa de ser refém e passa a ser agente de sua vida. Isto também é educação, da forma mais plena, responsável e com qualidade indiscutível.


Ass. Prof. Paulo Sesar  Pimentel

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